A afogadense dona Antonia dá dicas para chegar bem aos 100 anos
A jornada sempre foi árdua e difícil, mas o desânimo nunca se apossou de mim. Sinto profunda alegria e gratidão pela oportunidade de viver o que vivi e conhecer o que conheci" – Foto: Reprodução

A afogadense dona Antonia dá dicas para chegar bem aos 100 anos Basta ouvir sua voz rouca e ver suas fotografias para perceber que, para ela, não existe tempo ruim. Saiba como viver 100 anos, segundo dona Antonia.

A afogadense dona Antonia dá dicas para chegar bem aos 100 anos
“A jornada sempre foi árdua e difícil, mas o desânimo nunca se apossou de mim. Sinto profunda alegria e gratidão pela oportunidade de viver o que vivi e conhecer o que conheci” – Foto: Reprodução

Cerca de 100 anos depois, Antonia Alves de Lima lembra da infância no Sertão de Pernambuco. No apartamento onde mora, na 107 Sul, recebe poucas visitas. Mas quem senta ao seu lado pode ouvir algumas das histórias da mulher nascida em 7 de janeiro de 1918, em Afogados da Ingazeira (PE). Ela lembra do clima da Segunda Guerra Mundial no Brasil, da época da luz dos candeeiros, do fogão à lenha e da água guardada em um pote de barro.

Basta ouvir sua voz rouca e ver suas fotografias para perceber que, para ela, não existe tempo ruim. Mãe de quatro filhos e uma filha, Toinha, como é chamada, é o xodó da família. E não esconde a alegria quando é elogiada pelos bisnetos.

Linda, radiante e ativa, ganha a atenção dos amigos e até de quem não a conhece quando conta histórias e compartilha ensinamentos. “Chegar aos 100 anos é saber viver, aceitar as coisas como elas são e ter muita fé no que é bom”, responde ela, prontamente, quando questionada sobre o segredo da longevidade.

Após a chegada dos filhos, usava a máquina de costura para produzir calças e blusas curtas para as crianças. Ajudava na renda da família vendendo alguns chuchus, colhidos no quintal de casa. Passou por Afogados da Ingazeira, Pesqueira e Garanhuns, até que, em 1969, acompanhada de seus filhos caçulas, foi recebida em Brasília pelos primogênitos, que já moravam na capital. O marido, conhecido como Zezinho, chegou 15 dias depois.

Na nova capital, Antonia morou em um canteiro de obras em Sobradinho e trabalhou como cozinheira, fazendo quitutes para a família e para os operários da obra da Fábrica de Arroz Titan, construída na época. Mais tarde, mudou-se para a Quadra 3 da cidade, onde construiu uma residência definitiva. A fé inabalável e as orações, segundo ela, sempre foram fonte de amparo e estímulo.

Toinha, como é conhecida, faz questão de comemorar o centenário com uma feijoada – Foto: Reprodução
Toinha, como é conhecida, faz questão de comemorar o centenário com uma feijoada – Foto: Reprodução

Na Europa

Aos 73 anos, Toinha decidiu conhecer o mundo. Passou uma temporada na França, com um dos filhos, que morava lá. Ajudou a cuidar dos netos. Lá, conquistou o carinho de brasileiros e de franceses, fazendo amizades que cultiva até hoje. Católica fervorosa, visitou o Santuário de Lourdes e o Santuário de Fátima, em Portugal. De volta a Brasília, Toinha fez questão de participar de grupos católicos como Filhas de Maria, Padre Pio, Terceira Idade e Sagrado Coração de Jesus.

Sua extraordinária capacidade de nos manter unidos é, sem dúvidas, a mais bela lição de vida. Devemos a isso a nossa formação ética e moral. Sua bondade, serenidade e determinação nos enchem de orgulho e nos dão a certeza que temos a mãe mais encantadora do mundo”, emociona-se um dos filhos, Adelson Alves. Para todos, a mãe é uma “pequena gigante” e um exemplo de mãe, amiga e guerreira.

“É uma alegria em nossas vidas. Ela sempre comandou a casa com muita ordem e carinho, e ver que ela está lúcida e feliz é muito empolgante para todos nós”, completa a filha, Ariane Alves, 65 anos. Ela conta que, desde quando soube que os 100 anos seriam comemorados com festa, não há um dia em que dona Antonia não faça planos e perguntas sobre os convidados.

Celebração

Já são mais de 200 os convidados para a celebração, marcada para sábado. Gente que virá de Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e até da França. “Estamos realizados em fazer algo simples, mas marcante, na vida de todos que rodeiam a mamãe”, ressalta Ariane.

A família optou por uma missa de ação de graças na Igreja São Camilo de Lellis. Após a celebração, os convidados vão se reunir no salão de festas do templo para um coquetel, seguido de um almoço. No domingo, quando Toinha completa oficialmente seu um século de vida, haverá uma feijoada, por exigência da aniversariante. “Tudo com ela vira graça ou piada. Acho que a festa e a vida dela refletem tudo isso”, ressalta a filha.

Em meio a tantos anos vividos, realizações e novos planos, Toinha não deixa de agradecer por sua trajetória e pela graça de poder, de acordo com ela, lutar e vencer. “A jornada sempre foi árdua e difícil, mas o desânimo nunca se apossou de mim. Sinto profunda alegria e gratidão pela oportunidade de viver o que vivi e conhecer o que conheci”, destaca a aniversariante.

Como viver 100 anos, segundo dona Antonia:

» “Muita calma, humanidade, paciência e fé.”

» “Tem mais Deus para dar do que o Diabo para tirar.”

» “Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.”

» “Quem não se enfeita, por si só, se rejeita.”

» “Se a morte é um descanso, quero viver cansada.”

» “Enquanto tiver vida, sinta-se viva”

» “Tudo que é bom já nasce feito.”

» “Uma mãe é para 100 filhos, 100 filhos não são para uma mãe.”

» “Vamos comer, saco vazio não para em pé.”

» “O seguro morreu de velho.”

» Vida em revista

A comemoração dos 100 anos de Antonia será marcada pela edição especial de uma revista comemorativa, desenvolvida e editada pela família. O exemplar traz em suas 12 páginas histórias de vida emocionantes, depoimentos e fotografias que marcaram a caminhada da amada matriarca. Segundo os filhos, a publicação é uma forma de reconhecimento e gratidão à mãe e a todos que ajudaram a construir parte de sua história. “Várias eram as expectativas e objetivos desta tarefa: resgatar a essência e a história de vida, registrar memórias, sistematizar documentações e fotos, promover a felicidade e a união e oferecer às futuras gerações o legado de uma vida construída nos princípios da luta, do amor e da fé”, escreveram os filhos Alberto, Adelson, Ariane, José Carlos e Carlos José logo nas primeiras páginas.

Fontes: Correio Braziliense/ S1 Notícias