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Ministério da Saúde retira do ar cartilha para população trans

Ministério da Saúde retira do ar cartilha para população trans

Ministério da Saúde retira do ar cartilha para população trans

Uma cartilha dirigida a homens trans foi tirada do site do Ministério da Saúde na última quinta-feira, 4, seis meses depois de ser lançada. Produzido pela pasta em parceria com organizações não-governamentais, o material traz dicas de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis voltadas para essa população: pessoas que, ao nascer, foram consideradas do sexo feminino, mas que se definem como do gênero masculino.

A retirada de circulação ocorreu um dia depois da posse do presidente Jair Bolsonaro e foi atribuída à necessidade se fazer correções no material. Uma das páginas da cartilha exibe um esquema do órgão sexual feminino e um desenho de uma espécie de seringa invertida, batizada de “pump”, usada para aumentar o clitóris.

O ministério justificou que o esquema deveria vir acompanhado de esclarecimentos. Não informou, no entanto, porque essa eventual “falha” foi identificada apenas seis meses depois do lançamento do material e se ele será colocado novamente no site.

O ministério justificou que o esquema deveria vir acompanhado de esclarecimentos – Reprodução

“pump” : real Motivo da retirada

O uso do “pump” é controverso, uma vez que poderia aumentar o risco de traumas, lesões e infecções no órgão sexual, afirmam técnicos do ministério. A argumentação ainda é de que a prática é feita para obtenção do prazer e, por isso, não deveria ser abordada pelo ministério.

Integrantes da equipe da pasta ligada à prevenção afirmam, no entanto, que o “pump” tem, sim, de ser abordado e que a inclusão foi feita justamente como um alerta para a necessidade de que a seringas somente sejam usadas com higienização adequada.

A diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken, é a primeira da lista de organizadores e colaboradores da cartilha. O Estado entrou contato com ela, mas não obteve resposta.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também não se pronunciou. Em discurso feito na cerimônia de transmissão de cargo, na quarta-feira, 2, Mandetta afirmou ter compromisso com a família e com a fé. “Não se chega a cargo de tamanho de responsabilidade sem ter um compromisso muito grande com a família, com a fé, com o país, com a noção de pátria”, disse.

No papel

A cartilha também foi impressa e distribuída para serviços dirigidos à população trans em todo o País. A tiragem é de 23,5 mil exemplares. O material começou a ser entregue em novembro. A pasta ainda não definiu se irá recolher a cartilha ou se encaminhará uma errata, com advertências sobre o cuidado para o uso do pump.

Diretora em exercício do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, Rosa de Alencar Souza, afirmou que o centro já iniciou a distribuição do material. “A cartilha traz informações importantes para essa população. Não há nada ali que justifique a retirada de circulação”, defende.

Rosa afirma ainda não haver nenhuma restrição à prática do pump. Coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Alexandre Saadeh, conhece a cartilha e acha que o material é importante. “Ali há informações relevantes sobre prevenção de doenças, os direitos dessa população no sistema de saúde, as prevenções de forma geral”, observa.

Um dos pontos abordados é o controle da natalidade. Sem informação correta, alguns homens trans imaginam que, com o uso do hormônio masculino para adquirir características masculinas, reduza por completo o risco de engravidar durante relações sexuais com outro homem. “Uma eventual retirada de circulação representaria uma perda, uma dificuldade de acesso a informações de saúde para essa população”, avalia o coordenador.

No Distrito Federal, a distribuição das cartilhas impressas também já teve início, informou José Abílio Fagundes, da secretaria distrital de Saúde. De acordo com ele, a receptividade tem sido boa.

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