O Papa Francisco comparou a “praga” dos abusos sexuais de crianças e adolescentes às práticas religiosas do passado de oferecer humanos em sacrifício, no encerramento, neste domingo, 24, da reunião histórica sobre o tema no Vaticano, com 190 lideranças da Igreja Católica de todo o mundo. A Santa Sé também anunciou a intenção de publicar documento papal e um guia sobre as funções e deveres de bispos em relação às denúncias de abuso, além de criar forças-tarefas que ajudem as dioceses com esses casos.
Nas últimas décadas, a Igreja Católica tem sido pressionada por uma série de escândalos sexuais dentro do clero. Em 2018, por exemplo, todos os bispos do Chile renunciaram após denúncias de abuso virem à tona.
“Gostaria de reafirmar com clareza: se na Igreja for descoberto um só caso de abuso que em si mesmo já representa uma monstruosidade, este caso será enfrentado com a máxima seriedade”, disse o pontífice.
O abusador “é instrumento de Satanás”, segundo Francisco. “Não se pode compreender o fenômeno dos abusos contra menores sem levar em conta o poder, o quanto são sempre a consequência do abuso de poder, aproveitando a inferioridade do indefeso abusado.”
Conforme a Santa Sé, haverá um novo Motu Proprio, documento papal, com o objetivo de “reforçar a prevenção e a luta contra os abusos na Cúria romana e no Vaticano”, que acompanhará uma nova lei para a Igreja. O manual será publicado pela Conferência para a Doutrina da Fé e terá formato de perguntas e respostas, dirigido aos bispos.
Já a ideia de força-tarefa envolve mandar equipes de especialistas a dioceses que tenham menos recursos para prevenir ou combater o problema. Outras propostas em estudo são rever o segredo pontifício para casos de abuso sexual e criar um departamento na Igreja específico para denúncias desse tipo entre os sacerdotes.
Casos escondidos
Em outro posicionamento importante, a Igreja condenou a prática de encobrir delitos. “Por décadas, temos nos concentrados em crimes insistentes, mas agora chegamos à conclusão que o acobertamento é do mesmo modo ultrajante”, declarou o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, da Comissão Organizadora. Na semana passada, arquidioceses no México, nos Estados Unidos e na Polônia divulgaram listas de sacerdotes investigados.
No sábado, 23, o cardeal alemão Reinhard Marx admitiu que a Igreja destruiu materiais sobre estupradores. “Os arquivos que documentaram esses atos terríveis e indicam os nomes dos responsáveis foram destruídos, ou até sequer foram produzidos”, declarou o presidente da Conferência Episcopal Alemã. “Procedimentos e trâmites definidos para esclarecer os delitos foram deliberadamente ignorados e até anulados”, disse ele, que cobrou divulgação do número de casos analisados por tribunais eclesiásticos.
Parte dos grupos de vítimas, no entanto, reclamou do tom final da cúpula. Francesco Zanardi, presidente da Rede de Vítimas da Itália, reclamou da falta de menção a “procedimentos concretos e demissões de bispos”. (Com agências internacionais).