Coronavírus é fator crítico para pacientes obesos mais jovens

Coronavírus é fator crítico para pacientes obesos mais jovens

Uma das doenças consideradas como fatores de risco para o novo coronavírus, a obesidade é uma inflamação crônica. Por isso, está ligada a uma redução de imunidade, fazendo com que o obeso não responda tão bem em relação a agentes externos, como vírus ou bactérias. Boletim divulgado pelo Ministério da Saúde apontou nova tendência a respeito das mortes por Covid-19. Segundo a pasta, a obesidade está mais presente nos óbitos de jovens que nos de idosos.

Das 944 mortes analisadas e catalogadas pelo Ministério da Saúde até sábado, 75% são de pessoas com mais de 65 anos. Apesar disso, dos 43 casos em que pessoas obesas morreram em decorrência do vírus, 24 pacientes tinham menos de 60 anos. Vale destacar que é a única comorbidade em que isso acontece.

Endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Cristiane Moulin explica que pessoas obesas têm a função pulmonar prejudicada, uma diminuição do próprio volume respiratório. O fator se dá pela pressão da gordura – é como se houvesse um peso a mais em cima do pulmão e do diafragma, músculo que atua no movimento respiratório. Ela lembra ainda que a obesidade está associada à alta prevalência de doenças crônicas, que inclui diabetes e hipertensão, por exemplo.

A infectologista da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi, pontua que o tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um obeso pode enfrentar mais dificuldades. Segundo ela, um obeso corre mais risco de desenvolver um quadro de pneumonia grave do que uma pessoa sem obesidade. Infectologista do Hospital Brasília, Ana Helena Germoglio também fala sobre obesidade e ação restritiva da respiração. “É como se você tivesse um saco de 10 quilos, 15 quilos, em cima do seu tórax”, dizem. De acordo com ela, a obesidade por si só já leva o paciente a ter problemas respiratórios, mas têm ainda outras doenças relacionadas, o que faz com que a resposta imunológica do paciente seja pior. Ela pontua, entretanto, que o maior problema é o estado inflamatório crônico.

Aparelhagem limitada

É preciso se atentar também para o tratamento hospitalar, que pode ser mais difícil para o obeso. A endocrinologista Cristiane Moulin explica que pela própria disposição da gordura nas vias respiratórias, no pescoço, pode haver uma dificuldade no procedimento de entubação. “Para entubar, é preciso colocar em uma certa posição para visualizar a traqueia. O excesso de peso pode fazer a modificação anatômica, que dificulta isso”, explica. As macas também podem ser um problema. “Não é todo hospital que tem maca para IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 40”, diz a médica.

A dificuldade é a mesma quando se trata de exames de imagem, por exemplo. Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jamal Suleiman explica que nem todo equipamento é capaz de fazer exame em um obeso. “É o mesmo problema enfrentado em cinemas, transporte público. É uma população que exige um equipamento urbano diferenciado, e hospitalar também. E nem todo hospital está equipado para isso. Nesse momento, que a gente não sabe quantas pessoas com obesidade podem ficar doentes, esse problema pode ficar um pouco mais sério”, destaca.

O médico lembra que recentemente tratou de um jovem obeso com Covid-19 em grau moderado para grave. A obesidade foi o fator determinante para o quadro do paciente, que não cabia na máquina de tomografia. Foi preciso encontrar uma unidade que tivesse um aparelho maior.

No Brasil, 19,8% da população é obesa, segundo dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, do Ministério da Saúde. A obesidade é medida, em geral, pelo IMC, um cálculo simples que divide o peso pela altura ao quadrado.